Goiânia: A Jovem Capital dos Parques e a Complexa Teia da Saúde Mental

Goiânia, a capital do estado de Goiás, emerge no coração do Brasil como uma cidade singular, fruto de um planejamento audacioso e palco de uma efervescência cultural que a tornou nacionalmente conhecida. Em maio de 2025, esta jovem metrópole, prestes a completar seu primeiro século de existência, ostenta o título de uma das cidades com melhor qualidade de vida do país, célebre por seus vastos parques urbanos, sua arquitetura Art Déco e por ser o berço de grandes nomes da música sertaneja. Contudo, sob a copa de suas árvores frondosas e ao som das modas de viola, pulsa uma complexa realidade urbana, onde a saúde mental de seus cidadãos se apresenta como um campo de desafios crescentes e de buscas por bem-estar e cuidado integral.

Goiânia: Planejamento, Cultura e a Alma Verde do Cerrado

Nascida oficialmente em 1933 e inaugurada como capital em 1937, Goiânia foi concebida para substituir a antiga capital, Goiás Velho, em um esforço de modernização e interiorização do desenvolvimento estadual, alinhado à “Marcha para o Oeste” do governo Vargas. O plano original, dos urbanistas Attilio Corrêa Lima e, posteriormente, Armando de Godoy, presenteou a cidade com um traçado inteligente, amplas avenidas, setores bem definidos e uma profusão de praças e áreas verdes. Um dos legados mais visíveis desse período é o impressionante acervo de edificações em estilo Art Déco, especialmente no centro da cidade, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como o maior do Brasil e um dos maiores do mundo.

A alcunha de “capital mais arborizada do país” não é à toa. Parques como o Vaca Brava, com seu lago e pista de cooper frequentada por milhares, o Bosque dos Buritis, um refúgio de tranquilidade no coração da cidade com seu Monumento à Paz Mundial, o Lago das Rosas, o primeiro parque da capital, e o Parque Flamboyant, com sua vasta área verde e infraestrutura de lazer, são testemunhos do compromisso da cidade com a qualidade ambiental. Esses espaços não são meros adornos urbanos; são palcos da vida social goianiense, locais de encontro, esporte, cultura e respiro.

Culturalmente, Goiânia é um dínamo. É inegável sua projeção como um dos principais polos da música sertaneja, exportando artistas e ditando tendências para todo o Brasil. Mas sua identidade vai além: a culinária goiana, rica em sabores do Cerrado como o pequi, a guariroba, a pamonha e o empadão goiano, encanta paladares. As feiras populares, como a Feira Hippie (uma das maiores da América Latina), a Feira da Lua e a Feira do Sol, são vibrantes centros de comércio de artesanato, vestuário e gastronomia, refletindo a diversidade e a criatividade local.

Economicamente, Goiânia se destaca como um importante centro de serviços, comércio, educação e saúde, servindo como polo para o pujante agronegócio goiano. Sua localização estratégica no Planalto Central também contribui para seu dinamismo. Contudo, como toda metrópole em expansão, enfrenta desafios como o crescimento urbano acelerado, a pressão sobre a infraestrutura, o aumento do trânsito e a persistência de desigualdades sociais entre o centro e as regiões periféricas.

Um capítulo indelével e doloroso na história da cidade é o acidente com o Césio-137 em 1987. Este evento trágico, além de suas consequências diretas para a saúde das vítimas e para o meio ambiente, marcou profundamente a memória coletiva e aguçou a consciência da população para questões de saúde pública e segurança.

Saúde Mental em Goiânia: Entre a Qualidade de Vida e os Desafios Urbanos (Maio de 2025)

Em maio de 2025, a saúde mental dos goianienses é um tema que reflete a dualidade da vida na capital: por um lado, os benefícios de uma cidade planejada, arborizada e com forte senso comunitário em muitos bairros; por outro, as pressões inerentes ao crescimento urbano, às desigualdades e aos desafios da vida moderna.

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Goiânia, vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS), é a espinha dorsal do cuidado público em saúde mental. Ela é estruturada para oferecer um atendimento descentralizado e comunitário, buscando superar o antigo modelo hospitalocêntrico:

• Centros de Atenção Psicossocial (CAPS): Goiânia dispõe de uma rede de CAPS para atender diferentes necessidades:

  • CAPS II: Para adultos com transtornos mentais graves e persistentes.
  • CAPS AD (Álcool e Drogas): Focado no tratamento de pessoas com dependência química. Existem unidades com funcionamento 24 horas (CAPS AD III).
  • CAPSi (Infantojuvenil): Especializado no cuidado de crianças e adolescentes, como o CAPSi Água Viva. Estes centros oferecem acolhimento, acompanhamento multiprofissional (psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros), oficinas terapêuticas, grupos de apoio e atividades de reinserção social.

• Atenção Primária à Saúde: As Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Saúde da Família (CSF) e Centros Integrados de Atenção Médico Sanitária (CIAMS) são a porta de entrada da RAPS. As equipes de saúde da família têm um papel crucial na identificação precoce de sofrimento psíquico, no manejo de casos leves a moderados (com apoio do matriciamento pelos CAPS) e no encaminhamento adequado para serviços especializados.

• Urgência e Emergência Psiquiátrica e Hospitais: Serviços de urgência em hospitais gerais e, quando necessário, leitos em hospitais psiquiátricos de referência (como o Hospital Estadual de Urgências de Goiânia – HUGO, que pode ter suporte, ou unidades especializadas) complementam a rede, embora o foco seja sempre a reintegração comunitária.

O Papel das Universidades e da Sociedade Civil: A Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) são protagonistas na formação de profissionais de saúde mental e na oferta de serviços à comunidade através de suas clínicas-escola de Psicologia, como o CEPSI da PUC e o Centro de Psicologia da UFG. Outras instituições de ensino superior também contribuem. Além disso, Organizações Não Governamentais (ONGs) e grupos de apoio voluntário desempenham um papel importante no acolhimento e suporte a pessoas em sofrimento.

Desafios Atuais e Perspectivas (Maio de 2025):

1. Demanda Crescente e Acesso: A procura por serviços de saúde mental tem aumentado em todo o país, e Goiânia não é exceção. A capacidade da rede pública, apesar dos esforços, nem sempre consegue atender à demanda de forma ágil, podendo haver filas de espera.
2. Desigualdades Socioeconômicas: O acesso aos serviços e a prevalência de transtornos mentais são influenciados pelas condições socioeconômicas. Populações mais vulneráveis, residentes em áreas periféricas, podem enfrentar maiores dificuldades e estar expostas a mais estressores.
3. Estigma: O preconceito em relação aos transtornos mentais e à busca por ajuda profissional ainda é uma barreira significativa, dificultando o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento.
4. Impacto do Crescimento Urbano: O estresse do trânsito, a violência urbana (mesmo que Goiânia tenha índices melhores que outras capitais, ela não é imune), a pressão por desempenho e o custo de vida podem contribuir para o aumento de transtornos como ansiedade e depressão.
5. Uso de Substâncias Psicoativas: O consumo problemático de álcool e outras drogas representa um desafio importante para a saúde pública e mental na cidade.
6. Recursos e Financiamento: A sustentabilidade e a expansão da RAPS dependem de investimento contínuo e adequado para garantir infraestrutura, equipes completas e programas eficazes.

Potencialidades e Iniciativas Promissoras:

Goiânia possui um conjunto de fatores que podem favorecer a promoção da saúde mental:

• Qualidade Ambiental Urbana: A abundância de parques e áreas verdes bem cuidadas oferece espaços para lazer, esporte, contato com a natureza e socialização, elementos comprovadamente benéficos para o bem-estar psíquico.
• Forte Tecido Comunitário: Em muitos bairros, ainda se observa um forte senso de comunidade e vizinhança, o que pode funcionar como uma rede de apoio social.
• Cultura e Lazer: A rica oferta cultural e de lazer, incluindo as feiras, shows e eventos, proporciona oportunidades de expressão, socialização e alívio do estresse.
• Iniciativas de Conscientização: Campanhas como “Janeiro Branco” e “Setembro Amarelo” encontram espaço na cidade, promovendo o debate e a desmistificação da saúde mental.
• Rede Acadêmica Ativa: As universidades não só formam profissionais, mas também desenvolvem pesquisas e projetos de extensão que podem subsidiar políticas públicas e intervenções mais eficazes.

Conclusão: Cultivando o Bem-Estar na Capital Verde

Em maio de 2025, Goiânia, a capital planejada que floresceu no Cerrado, enfrenta o desafio de conciliar seu elogiado padrão de qualidade de vida com as complexas demandas da saúde mental de uma metrópole em constante evolução. Seus parques e praças são mais do que cartões-postais; são potenciais aliados na promoção do bem-estar, mas não substituem a necessidade de uma rede de cuidados psicossociais robusta, acessível e humanizada.

O futuro da saúde mental em Goiânia passa pelo fortalecimento contínuo da RAPS, pela redução das desigualdades sociais, pelo combate incansável ao estigma e pela promoção de uma cultura de cuidado e empatia. Requer, ainda, a valorização dos profissionais da área e a integração efetiva entre os diversos setores da sociedade – saúde, educação, assistência social, cultura, segurança – para construir um ambiente urbano que seja verdadeiramente promotor de saúde integral. Ao cultivar o bem-estar psíquico de seus cidadãos com o mesmo esmero com que cuida de suas áreas verdes, Goiânia poderá, de fato, consolidar-se como um lugar onde a qualidade de vida se traduz em plenitude para todos.